Delírio Total

Deliro quando me perguntas por onde ando,
Quando me confidencias que te faço tanta falta,
Quando me expões o coração pleno de sentimento,
Ao me veres retornar, roto das tantas noites de ribalta
E confessares-me que farejavas o meu cheiro pelos cantos...

Deliro com esta tua forma de sempre me achar,
De me tocar, de me satisfazer, desprovida de receios,
De me sentir, assim, inserido em ti, a cada momento
E maternal a me acolher em teu colo, dar-me os seios,
De onde sugo a força vital que me insta a continuar...

Deliro quando deliras com as carícias que te propicio,
Quando deliras com o êxtase de um toque não aguardado,
Quando me retribuis com um sussurro de lamento,
Pelas vezes tantas em que deveria ter-te tocado,
Em que aguardavas por mim como uma fêmea no cio...

Deliro quando, lânguida, te sinto esmorecer no abraço,
Quando me conduzes para o mais íntimo de tua essência,
Com teu arfar, a tua ânsia de me satisfazer, de que tento
Me desenvencilhar. Mais uma vez sucumbo à tua urgência
E entrego-me ao delírio que só encontro em teus braços...

Ganso Selvagem (Rui Moreira)