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segunda-feira, 25 de abril de 2016

Tu és o meu descaminho



Já nem mesmo sei, não mais reconheço quem tu és,
No meio do infinito de faces com que se me apresentas,
Às vezes sugerindo que não és minha ou de ninguém,
Que nem mesmo se pertences e, às vezes, és de todos...
Nos breves momentos em que, romântica, me açodo,
Vejo-te empunhando o estandarte do amor, do bem,
Vivendo a vida como que um filme em câmara lenta,
Logo em seguida possuída, distribuindo pontapés.

Noutros momentos, por instantes, tu és a chuva,
Melancolia no seu estado mais puro, anoitecer, neblina,
Beco sem saída, encruzilhada de todos os descaminhos,
Como se a confluência a mostrar-me o rumo incerto...
Por vezes, brilhas como estrela da noite no deserto,
Ao conforto no refúgio de teu oásis, envolto no linho
Da penugem do teu corpo, quando se mostra a menina
A bailar sensual, despindo a saia, sacando a blusa...

Por outras vezes, és o mar com os seus insondáveis mistérios,
Pérolas das suas profundezas, escondidas nas suas grutas,
Em busca das quais mergulho a todo e cada momento,
Sentindo, por vezes, embriagar-me nessa letal narcose...
E feneço em teus braços ao sorver cada uma das doses
Deste absinto que me extasia e com que me alimento,
Degustando em teu corpo cada uma das tuas frutas,
Insistindo ainda em tanto amar, infinito despautério...

Das vezes tantas, tu és, metade espinhos, metade simples flor,
Rosa que colho com beijos cálidos, cobrindo-a de versos,
Descobrindo a face oculta da mulher imensa, libidinosa,
Fêmea no cio com que me delicio, intensa, que ri e chora.
Vagueamos pela imensidão etérea, pelo mundo fora,
Em meus braços contida a infinita mulher, toda prosa,
Em que se resumiu toda a amplitude de seu universo,
Vendo as miríades que antes eram sintetizadas pelo amor.

Ganso selvagem (Rui Moreira)





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